Dylan Thomas,

"And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.

And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Though they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion."
eu até curto você olha

É

-O mais importante na vida… é saber o que se quer e correr atrás!

-Mesmo que seja preciso saquear todos os castelos da Inglaterra até achar, não é?

-É!

Eu quero… hm, férias

Próximo post

-Vai, me dá logo um tiro, seu covarde, seu filho da puta. Não vou dizer que não foi doído, me deu até dó. Ai. Me foi difícil matar uma mulher como a Elvira, mesmo ela sendo uma besta, uma víbora pestilenta, escrava das trevas, mesmo ela sendo uma serviçal maldita. Sabe como é a cena – o leitor cuja inocência foi vertida na sangria -, aquela dignidade mítica de quem vai morrer, ou melhor – de quem oferece a cabeça em sacrifício, de quem quer ser santo na hecatombe ridícula do dia-a-dia: mas não se engane, é tudo muito falso. A honra do homem, ah, que não se pode medi-la, mesmo com laivos de autêntica se espalha num esparramar de miolos como uma mentira, muito frágil, muito patética, na sonolência silenciosa da minha casa vazia. Foi assim com Elvira – me chamou de cachorro, a cachorra. Disse que lhe valia muito mais morrer agora do que receber minha carícia, etc. Coisa de quem duvida. Farejo a conversa-fiada, identifico a ousadia. A Elvira, coitada, mais um segundo do coração desfalecia. Não lhe permiti a honra.

Não me agradou a idéia de limpar a sala, enxugar aquele sangue todo, os caquinhos de crânio (o cabelo dela esvoaçando eriçado que nem um porco-espinho, que nem uma água-viva), entre outros elementos absolutamente lastimáveis do corpo humano que desnudos assim me repugnavam de tal monta que só me restou fugir.

-O homem reto evita o que lhe afronta a higiene, simplesmente-

O bojo do meu amor se deglutindo, o peso do peito que fora tão arfante da Elvira aquecendo as estrias do piso e a fumaça do revólver nas golfadas infernais, mas e a fumaça do cigarro agora defronte esse chiqueiro na – a edição, única medida cuidadosa na vida, os incautos se entregam no contar- ,minhas pernas esticadas, depois cruzadas, olhando suando nunca sonhando, um filho apagado de Deus. Pode me ler, sou outro homem.

Primeiramente, as circunstâncias,

Quando eu conheci a Elvira, soube logo que seria a mulher da minha vida. Último ano do colegial, apresentados por intermédio de uma amiga, toda essa ladainha. Falávamos de poesia, Pessoa, de lugares distantes, da magia de terras desconhecidas. E como tudo que começa com versos e lírios do campo termina em sacanagem e ofegantes blandícias, amamo-nos assim incomensuravelmente. – O leitor sabe, indivíduos cuja abordagem primeira recai imediatamente no interesse indefinível pela poesia, têm tão somente um objetivo: foder, invariavelmente. Há  tipos e tipos, os suaves e/ou lúgubres, dos sonetos regados a vinho e delírio, que ainda te querem foder a cabeça; os acadêmicos lunáticos (fugir sobretudo destes)-

O pai dela era um lixo, a mãe um trambolho. Certa vez, o velho, O sempre bêbado, um peso aposentado, cego de um olho e carente de neurônios, tentou ferir-me com um magnífico instrumento conhecido como atiçador, ao pensar que eu, noivo de sua cândida Elvira, era o leiteiro (o que comera sua esposa).

Porém éramos felizes.

Só que há duas coisas nessa vida que eu não tolero, veja bem. Enumero-as:

1)      Molestar criança, que é uma crueldade descabida e atroz, cometida por loucos, torpes, homens sem elegância, porcos de toda espécie

2)      Resumindo, a outra é que me toquem o carro.

Para os que sabem do que falo, há em minha casa uma coisa chamada enciclopédia. Bem, procure uma explanação satisfatória concernente a eles, os automóveis. Carroceria, suspensão, frenagem, direção,… aos enciclopedistas, esses eunucos da paixão, falta a sensibilidade para destacar o essencial. Vejamos: só há um único espaço reservado ao condutor, e este deve ser o proprietário no caso Eu.

Esse foi o erro de Elvira, tocar a porra do carro; – que audácia- ligá-lo, andar nele.

Não vou mentir, não vou dizer que não foi doído. Nunca deve ser fácil matar uma mulher como a Elvira; ela era bonita. Ela tinha uns olhinhos duros por dentro que nem ameixas, doces, secos e escuros; o peito que sempre tamborilava cansado porque ela era triste, bonita e triste; cabelos de fundo de mar. – O nosso herói, não por graça de estilo, mas por inocência intuitiva, mantém breve o elogio à amada. Ele sabe, as coisas dignamente belas cabem no bico do beija-flor. She turned away,/ but with the autumn weather/ Compelled my imagination many days,/ Many days and many hours, I bring you with reverent hands/ The books of my numberless dreams.  Nada de complicações. Um olhar mais crítico ensina: pode ser belo, trabalhado, vá lá, mas é tudo mentira, todavia passível de análise, disseco que nem sapo. Um olhar mais coerente elucida: é tudo balela. Só zero-à-esqueda que quer ser poeta – Francamente, uma puta morfética,

Pra quê me privar do pudor, da minha juventude maturidade e velhice, da minha infância da minha razão? Pra quê me tocar o carro? Pra quê me maltratar assim a alma?

Que nem um verme ela buscava faminta o meu tesouro.

Fugi, troquei de identidade etc.

Ha, dia desses (ainda me procuram), liguei a TV. Um homem, um cavaleiro da luz, absolutamente sobrenatural, grandalhão, imponente, bradava, largo que nem Deus (creio que o era), algo ao meu respeito. Atordoado com a corpulência divina, seu porta-voz, menos profético é verdade mas com aquele ar messiânico, um senhorzinho respeitável, foi o responsável pelo meu entendimento. Ele disse vejam bem é um marginal um assassino não vale o que o gato enterrou crápula covarde como é possível ainda foragido. Daí uma foto antiga, eu menos severo, ou eu mais vivo. Demorei pra me reconhecer. O rosto era até familiar mas como a gente muda sem barba.

E então mais uma vez adormeço, sem culpa. Querem que eu sinta culpa, mas no desnovelo da aurora eu sinto meus músculos vibrarem em êxtase (não digo alegria). O amanhecer é sempre certo, o sol se espreguiça, se impõe tirânico e cancerígeno, uma brasa intermitente no pisca-pisca eterno da rotina, esse nascer do sol que é um vai-tomar-no-cu¹ certeiro e interminável.

La rue assourdissante autour de moi hurlait

Saindo com meu carro vejo como é tudo muito vulgar, repetitivo e barulhento, essa coisa da criação. Não me agrada tanta inutilidade caótica. É canto de pássaros, é andar rutilante da natureza, é ventre estéril e infinito do mar que me espanta. Pra quê? O dedo do criador, a cabeça do artesão – canalhices sem fim. Você vê respira ou lê: e é um enfado, esses bafos do falsário. Enquanto dirijo vejo como a vida é cafona; viver é horrendo. Mas olha esse par de pernas.

¹ O dicionário Aurélio registra o vocábulo sem acento

Detran, Detran, tôdiolhonosinhô.

The Abduction

Some things I do not profess 
to understand, perhaps
not wanting to, including
whatever it was they did
with you or you with them
that timeless summer day
when you stumbled out of the wood,
distracted, with your white blouse torn
and a bloodstain on your skirt.
"Do you believe?" you asked.
Between us, through the years,
we pieced enough together
to make the story real:
how you encountered on the path
a pack of sleek, grey hounds,
trailed by a dumbshow retinue
in leather shrouds; and how
you were led, through leafy ways,
into the presence of a royal stag,
flaming in his chestnut coat,
who kneeled on a swale of moss
before you; and how you were borne
aloft in triumph through the green,
stretched on his rack of budding horn,
till suddenly you found yourself alone
in a trampled clearing.

That was a long time ago,
almost another age, but even now, 
when I hold you in my arms, 
I wonder where you are.
Sometimes I wake to hear
the engines of the night thrumming
outside the east bay window
on the lawn spreading to the rose garden.
You lie beside me in elegant repose,
a hint of transport hovering on your lips,
indifferent to the harsh green flares
that swivel through the room,
searchlights controlled by unseen hands.
Out there is a childhood country,
bleached faces peering in
with coals for eyes.
Our lives are spinning out
from world to world;
the shapes of things
are shifting in the wind.
What do we know
beyond the rapture and the dread? 
Stanley Kunitz

autorretrato

Recolho minhas cartas, escuso-me do sonho.

As coisas belas só nascem da indiferença.

Olho minha manga; meu esqueleto coube num botão.

Ao meu lado há uma mosca, imóvel. Morreu por alguns instantes ao se deparar com o ato insano da criação¹.

Uma mosca não é uma criação insignificante.

¹ pequena morte ao se depurar no ato descrente da criação

Modelo 1

Cassandra. Olhe, Cassandra. Falta-lhe algo; falta-lhe até a palidez delida. Sentada no meio do quarto, a cortina fechada, as tábuas no chão lhe penetram uma umidade torta, muito velha, um mormaço vesperal de tripa enferrujada. Tem manchinhas roxas nos braços, nas pernas… poças onde respinga dor, uma garoa insignificante, cemitério de bigornas, cavalaria apocalíptica dos poros, penugem morna. Dá dó de vê-la assim? A mãe na sala parece nem existe, ou melhor, parece aparição, diabrete – uma cadela infernal em banho-maria de enxofre, a maldizer o marido na corcova do tempo aquela história de comprar cigarros na esquina Cassandra até gostava, o pai. Mas de que importam os pais? Cassandra o sol das 3 recua  com o rabo entre as pernas do meio do quarto Cassandra sentada no meio do quarto recua a cabeça pra adivinhar a vida que lhe ferve o peito febril no sol inimaginável – essa Cassandra não é corpo de que lhe valem os pais, que não tem sobrenome. Os dentes e a língua a Língua, ah se falasse agora seria como uma menina de vitrais na boca, sussurrando a longa permanência de um órgão.  Eu lhe faço e me escravizo enquanto escrevo, ela? apaga-se a si mesma enquanto pisca. Lúpus num sapateado sobre a nuca lhe arrepia até a ponta calejada do dedinho. Parece uma boneca, marionete que a morte modela pro gozo infinito – ah, o escárnio ensurdecedor dessa artesã vai brincando e palpitando até na roupa farrapo da enferma vinte e quatro anos de delírio. Viver é esse absinto sufocante, e cada afago da juventude um veneno novo. Estática assim parece uma fotografia desbotada, dessas que a gente acha quando revira os arquivos públicos – aquele ser só o tronco pra cima, um peito burocrata outro cravo que empina a crina no canteiro da esquina; fantasma com olhos tão lúcidos que te petrifica, nobre que mendiga alma, uma medusa congelada. Na verdade, Cassandra, é um borrão. Deixa ver como o tempo passou – vai se cercando feito musgo. Vai, costura os olhinhos, será fantasia? Amansa o tambor, sereia, e repousa que nem bebê o cano no céu da boca. Assim que se deve beber Deus. Mas olhem, ela continua um borrão.

(Maurice Maurice)

Valeu, Belém… que porra de inverno é esse?! -_-

O nada é uma coisa muito enfática

-_-

Corpo borbulhando, ferida de vulcão, febre? – nada. O morno da colcha, e só. A Helena levanta: pesada feito um anjo, fica maturando Deus na carapaça, Ó céus, a eterna caceteação.

                A Helena abre as cortinas e deixa o sol entrar que nem um enxame feérico de abelhas. Os ferrões vão me roendo a pele até que eu abra os olhos. O mel venenoso ela que destila.

                A Helena, não sei por que, deixa um copo-de-leite sobre  a mesa de cabeceira. Desde que eu a conheci.  A mesma flor. Agora que reparei as teias amarrotadas de aranha, sardônica, ridícula, e aquele desespero lancinante de quem não consegue se fazer perceber morto.

                A Helena quando me chama parece uma nau me estraçalhando os ossos. Olha… parece um mundo de chumbo e enxofre rolando nas minhas têmporas. E fica me olhando com essa cara de eu quero te moer e me dá um tapa, ladra, me dá um tapa só pra depois ficar com dó e usar aquela áurea de madona, madona degradada.

                Não.

                A Helena se não fosse minha mulher seria minha mãe de tão cândida.

                A Helena que acorda comigo no pesadelo da minha convivência, que vem dormir do meu lado no inferno mas que nunca tocou a boca na minha.

                A Helena me chateia.

(eu de novo né)

Do MV

O fim da mata

Praia sem beiras

A praia calcinada

                 aponta seus canhões

   contra as águas:

lendas afogadas

(maurício blá)

Une petite vache tachetée dit toujours la même chose

uma vaca malhada diz nada o tempo todo